Na quase totalidade dos espaços religiosos, a fé sempre se projetará para a experiência daquilo que consideramos transcendente, i.e., para algo metafísico, eminente, que exceda os limites normais ou ordinários, que se mostre sublime e que vá muito além da natureza física das coisas, que se mostre radicalmente superior. Nada há de errado nisso, exceto quando o que se espera das pessoas é que elas, nas experiências de busca pelo sobrenatural, se 'divinizem' e, em contrapartida, tornem-se ou se entendam menos humanas, menos gente, e a consciência da humanidade comum desapareça, e surja uma danosa desconexão com a realidade.Há também uma outra via, um pouco mais sutil, pela qual as pessoas podem se tornar menos gente em espaços religiosos: a manipulação mental, o controle comportamental, o domínio da percepção da realida-de, o comando das estruturas emocionais, a influência o pensar e o roubo da autonomia. Tudo isso perpetrado por gente que manipula pelo manuseamento da fé sincera que as pessoas, enquanto genté criada para a liberdade, possuem e buscam se aprimorar e avançar na expériência da realidade que as cerca. Surge, então, esse grito na forma dessas reflexões sobre tornarmo-nos mais humanos: A gente é gente, gente!